Quem exerce poder na gestão da TAP? São onze contra onze, mas no fim ganha o chinês

Vimos em post anterior (aqui) como a administração (não executiva) da TAP está limitada na influência que pode ter na gestão efectiva da empresa (privada a 100%). Mas afinal, quem, do lado accionista, tem poder sobre a gestão da TAP?

David Neeleman é o estratega e o criativo. O hub para rotas entre Europa e América do Norte é o melhor exemplo deste poder. Tem experiência empresarial na aviação de entre as melhores do mundo. A estratégia é ele!

Humberto Pedrosa tem o poder da sua personalidade de calma/forte e da ‘ligação com Portugal’, um mundo que conhece bem. Quem fez o que HP fez … só pode ser bom.

Fernando Pinto continua a ser o melhor CEO que a TAP pode ter, pela experiência acumulada em lidar com accionistas pouco correntes. Está condenado a apresentar resultados positivos … fora o custo do fuel.

Lacerda Machado é o único administrador não executivo que pode exercer poder, dadas a sua capacidade de negociador, conhecimento da TAP e ligação ao accionista estado português politico partidário.

Dito isto, um outro parceiro pode vir a ser o mais importante. Para além de accionista como os outros, o grupo HNA surge como financiador e … quem financia manda. São onze contra onze, mas no fim ganha o chinês.

*O accionista chinês

Em Novembro de 2015, o grupo chinês HNA adquire 24% do capital da Azul, a companhia aérea brasileira fundada por David Neeleman. Desde então a aquisição da TAP por David Neeleman arrasta consigo a possibilidade de Lisboa ser a opção da HNA para as rotas para a América do Sul.

Esta possibilidade e o simples bom senso levam DN a cancelar a aquisição dos Airbus A350 por aviões mais adequados ao hub de Lisboa para a América do Sul e, inovação estratégica de Neeleman, para a América do Norte.

Ainda hoje no Jornal de Negócios, Fernando Pinto fala de: “capacidade de capital” para “investimentos adicionais”, mais do que do code share com a companhia aérea do parceiro chinês:

-“Eles têm uma capacidade de capital muito grande e isso para nós é uma tranquilidade. Se for necessário investimentos adicionais eles têm forma de ter acesso a capital. E na parte estratégica nós vamos começar a receber agora os voos a partir de Julho, vamos poder fazer ‘code-share’ e é um mercado totalmente novo para nós.” (1).

*Injecção de capital – perspectiva inicial

Voltemos a Junho 2015. Na primeira conferência de imprensa do consórcio então comprador de 100% do capital da TAP e segundo o Observador,

-“a dupla Neeleman/Pedrosa promete investir, pelo menos, 600 milhões de euros. Este montante inclui a recapitalização da TAP, no valor de 338 milhões de euros, e o financiamento à compra de 53 novos aviões, que oscilará entre os 250 e os 300 milhões de euros. O investimento poderá mesmo ser superior, e chegar aos 800 milhões de euros, admitem os investidores.” (2).

Esta afirmação de capacidade financeira é feita no contexto da aquisição da maioria do capital da TAP prevista na privatização pelo governo PSD/CDS.

*Injecção de capital – o accionista chinês

Meses depois, e em entrevista ao Publituris e já no contexto da reversão da privatização (3), interrogado sobre “Quanto dinheiro vai ser preciso?”, DN responde:

-“Muito. Até 300 milhões de euros. […] O capital que colocámos na empresa não será suficiente para fazermos tudo o que temos de fazer para criar uma nova TAP para o futuro.”.

Sobre “Se não é suficiente, como vão ter esse capital?”, DN responde:

-“Temos um sócio, que é a HNA, vamos discutindo com ele a melhor forma de podermos fazer esta restruturação.”.

Ficamos sem saber se esta verba é só para recapitalizar a empresa ou se também é para a renovação da frota, e sem saber se a proposta inicial cai com a reversão da privatização.

Fica clara a ideia que o investidor será a HNA e que a HNA será uma fonte de poder determinante.


A Bem da Nação

Lisboa 14 Junho 2017

Sérgio Palma Brito

Notas

(1)Ver 2017.06.14 Jornal de Negócios

(2)Ver 2015.06.24 Observador


(3)Publituris de 17 Março 2017

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