Privatização da TAP – o que faz falar Pais do Amaral?


A privatização da TAP é o tema de publica uma longa entrevista com Pais do Amaral, publicada no Jornal de Negócios de 25 de Maio. Dada a sua extensão, o editor divide a entrevista em quatro peças, cada uma com uma mensagem mais forte.

Ainda não compreendemos o que fez correr Pais do Amaral no processo de privatização da TAP. Uma vez inquestionavelmente excluído, passamos a também não compreender o que faz Pais do Amaral continuar a falar.

Declaração – Só conhecemos Pais do Amaral pela comunicação social e não temos qualquer interesse pessoal na privatização ou não da TAP. Em nossa opinião, desmontar a intervenção de Pais do Amaral neste processo é um dever de cidadania.

 

1.É altamente provável que o Estado assuma dívida da TAP”

*sentar à mesa o vendedor, credores, trabalhadores e comprador”

Pais do Amaral recorda como tudo começa:

-“Foi a pedido do Governo que em Julho de 2014 apresentámos uma proposta de ‘nonbinding’, as mesmas quatro páginas, para a TAP.”.

É no seguimento deste convite que Frank Lorenzo aparece como caução de que conhece a aviação, num consórcio que falha ‘por culpa do governo’:

-“o Governo, ao contrário do que tinha prometido, de avançar com o processo em Setembro, não o fez.”.

Sobre o não ter entregue uma proposta vinculativa, explicita o seu modelo de privatização:

-“Aquilo que aconselha a experiência de privatizar uma empresa com estas características é que se deve sentar à mesa o vendedor, os credores, os trabalhadores e o comprador. O comprador não está disposto a passar um cheque sem garantir estabilidade laboral nem sem ter a garantia de que os credores estão de acordo com o plano e que eventualmente o vendedor assume alguma da dívida. A nossa carta não é mais do que isto: propor este plano.”.

Com o devido respeito, este modelo é de um irrealismo evidente e só existe no espírito criativo de pais do Amaral. Basta lembrar que o vendedor é ‘governo e PS’, os trabalhadores são sindicatos poderosos (SPAC e Pessoal de Voo, entre outros) e os compradores serão ‘candidatos a compradores’ Concorrentes entre si. Ficamos com a desagradável sensação que Pais do Amaral se refere a ‘convite do governo, seguido de negociação um-a-um’.

Depois de criticar a demora no arranque do processo, Pais do Amaral critica a rapidez com que é conduzido. Sobre a demora, Pais do Amaral

-exagera ao considerar que o processo “na realidade só começou em Fevereiro” com a publicação do caderno de encargos e não em Dezembro com o decreto-lei – o que dá apenas dois meses de atraso em relação a Setembro,

-empola o condicionamento pelo “calendário eleitoral e o facto de principal partido da oposição dizer que não é a favor da privatização”.

*Estado assume parte da dívida da TAP

A primeira mensagem da primeira peça da entrevista consiste em responsabilizar (‘culpabilizar’, na linguagem corrente) o governo

-por desfazer o consórcio reunido por pais do Amaral, e

-por não seguir o modelo de privatização que propõe.

Depois Pais do Amaral passa ao que parece ser a segunda mensagem forte que justifica a entrevista:

-ser necessário que o Estado assuma a dívida da TAP, “Algures entre 200 e 400 milhões. Ou então garantir a longo prazo.” (aqui).

Dentro de dez dias saberemos como interpretar estar afirmação. Ela coincide com fortes rumores da privatização poder falhar por esta ser umam exigência do comprador, mas ter um preço politico que a torna inviável.

 

2.Nenhum dos candidatos é uma empresa de primeira linha mundial

Na segunda peça da entrevista, Pais do Amaral tem dupla mensagem:

-diminuir os candidatos, por nenhum ser “uma empresa de primeira linha mundial”, o que o leva a ele Pais do Amaral ter pena que “a TAP não possa casar com uma grande empresa mundial.”,

-em alternativa propõe “manter a empresa independente” e estar “disponível para fazer uma aliança estratégica com uma grande empresa europeia e mundial”.

Interrogado sobre qual seria essa “grande empresa mundial”, recusa entrar em nomes, mas lembra uma evidência:

-haver “três grandes empresas europeias e eventualmente duas ou três no Médio Oriente e na China” e qualquer delas ser “um óptimo candidato a parceiro estratégico”.

Afirma ter tido contactos com várias dessas companhias, mas

-“o timing deste processo fez com que nenhuma dessas companhias se interessasse para participar neste processo. O que não quer dizer que daqui a 12 meses não se possam interessar.” (aqui).

As grandes empresas que Pais do Amaral refere são conhecidas, assim como são conhecidas as razões porque não querem a TAP e de Pais do Amaral não necessitariam para comprar a TAP.

Toda esta parte da entrevista é à glória do empresário Pais do Amaral.

 

3."Lorenzo? As pessoas não têm paciência para um processo que dura 12 meses"

Segundo Pais do Amaral e depois de ter anunciado  Frank Lorenzo com algum excesso, este apenas “tem seguido este processo”, mas “Decidiu colocar-se numa posição menos visível nesta fase.”.

Com Lorenzo “menos visível” e que “Poderia ter investido como investidor”, Pais do Amaral insiste na responsabilidade da lentidão do governo:

-“Apresentámos uma proposta em Julho, estamos em Maio. Acho muito tempo. Passa-se muita coisa nos Estados Unidos também. Vão aparecendo outros negócios, outras oportunidades e as pessoas não têm tempo nem paciência para estar a seguir o mesmo processo durante doze meses.” (aqui).

Há exagero nas datas e sobre a importância de uma proposta de quatro páginas. A proposta é apresentada em Julho de 2014 na expectativa do Governo começar o processo em Setembro. Na realidade,

-o Decreto-Lei n.º 181-A/2014 de 24 de Dezembro que formaliza o processo de privatização da TAP é aprovado na reunião de Conselho de Ministros de 13 de Novembro,

-uma pessoa com a posição de Pais do Amaral acompanha a elaboração do texto legal (por bondade admitimos que não o influencia) e conhece o texto bem antes da sua aprovação,

-a diferença com o previsto mês de Setembro é mínima e não faz sentido afirmar que “estamos em Maio”.

 

4.”Avianca é uma empresa mais importante”

A quarta peça da entrevista é irrelevante, porque se limita a generalidades sobre a Azul e a Avianca. Pais do Amaral não destrinça o essencial:

-David Neeleman e Efromovitch valem pelo que fizeram na aviação civil e animam dois consórcios que ainda desconhecemos,

-a TAP não será comprada nem pela Azul nem pela Avianca mas por estes consórcios (aqui).

 

5.A pergunta certa e a resposta esclarecedora

No fim, o jornalista formula a pergunta certa:

-“A sua intervenção acaba por transmitir um pouco a ideia daquilo que se acusa muito aos investidores portugueses: apresentarem sempre a bandeira do centro de decisão nacional e depois na hora certa não estarem lá para comprar. No fundo, arranjarem desculpas para as coisas que não correm assim tão bem. Pensa que é também uma razão para o criticar?”.

A resposta é esclarecedora pelo autoconvencimento que não nos convence, antes pelo contrário:

-“O trabalho que nós fizemos nestes últimos 18 meses demonstra que não há aqui nenhum tipo de ligeireza nem de amadorismo neste processo.”.

Em nossa modesta opinião e até dispormos de informação contrária, a postura de Pais do Amaral ao longos destes meses é a da ligeireza e amadorismo tão característicos de muitos dos pequenos deuses caseiros que florescem em Portugal.

 

A Bem da Nação

Lisboa 27 de Maio de 2015

Sérgio Palma Brito

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário