O Algarve às Sextas (2012.03.30)
A Politica Que Falta à Economia do Turismo do Algarve

A Economia do Turismo do Algarve só volta a crescer e criar emprego quando Governo, Administração e Sociedade Civil se empenharem em ultrapassar os Estrangulamentos à sua competitividade e em fomentar as Novas Dinâmicas que a concretizam – é o que designamos de Politica que Falta à Economia do Turismo do Algarve.

As ideias que seguem são uma base de debate, destinada a quem não está convencido que sabe tudo e quer fazer algo pelo futuro da Região e do País.

O texto está concentrado na Viagem de Estadia e na Economia do Turismo do Algarve, Estrangulamentos e Novas Dinâmicas têm a ver com a Economia do Turismo, em todo o País.

Ao leitor mais interessado, sugerimos a consulta imediata do Documento de Trabalho, que apoia este post (DOCUMENTO). Nele encontra o fundamento das ideias e propostas e as Referências.



a)Notas Sobre a Realidade da Economia do Turismo



Þ     Algarve: Os Últimos Dez Anos e a Actualidade da Crise Estrutural

A prosperidade da economia e sociedade do Algarve, nos últimos dez anos, resulta de evolução contraditória no seio da Economia do Turismo:

·          perda de competitividade do Alojamento Turístico Classificado, com menos 31 % de dormidas de ingleses e de 50% de dormidas de alemães,

·          valor gerado pelo desenvolvimento de dois outros elementos da Economia Turístico Residencial (Turismo Residencial e Atracção de População Residente): são edificados 103.000 novos Fogos, repartidos em Residência Habitual (53.000), Uso Sazonal (40.000) e Vagos (10.000).

A Crise Estrutural, Violenta e Duradoura tem duas origens directas:

·          a Procura por Turismo Residencial e Casa de Residência Permanente, origem da prosperidade da Região, cai a pique, a partir do segundo semestre de 2008 – boa parte desta queda é estrutural,

·          continua a perda de competitividade do Alojamento Classificado – não se vislumbra inovação na Parceria entre Politica de Turismo e Iniciativa Privada que a possa reanimar.

Não é surpresa que a percentagem de desempregados no Algarve seja a maior no País e que a Região empobreça, desde 2009. Estranha é a percepção de uma Região onde domina a ilusão de um “inquestionável acesso à prosperidade adquirida” e a incapacidade em reagir: CCDRA, ERTA, ATA, Universidade, Municípios, Associações Empresariais e outras instituições suportam os sacrifícios, sem a menor erupção de energia para MUDAR.

A exigência da Politica Que Falta à Economia do Turismo do Algarve devia partir de uma iniciativa de base regional e não de simples livre-pensador.



Þ     Algarve: Criar Valor a Partir de Activos Existentes

Temos de partir da realidade do Alojamento Turístico Classificado e do Alojamento Turístico Privado (Casas do Tempo Livre de Propriedade Privada, em utilização exclusiva, exploração turística e misto de utilização pelo proprietário e exploração. O gráfico seguinte ilustra a realidade:

Fonte: Elaboração Própria, com base em INE – Recenseamentos da Habitação e AHETA

Perante esta realidade e com base nos números do Turismo na Balança de Pagamentos, a Politica de Turismo tem de dar prioridade absoluta

·          ao Marketing & Vendas do Alojamento Turístico Classificado,

·          a Acções inovadoras, que criem valor a partir dos 145.000 Fogos de Uso Classificado, que são investimento de mais de 100.000 famílias portuguesas e estrangeiras.

A Politica de Turismo não pode continuar culturalmente (repito: culturalmente) “capturada” pelos Estabelecimentos Hoteleiros, tolerando, ignorando ou hostilizando “a imobiliária” – esta foi a Politica de Turismo dos últimos quarenta anos e veja-se quão benéfica (sic) foi para o Alojamento Classificado.



Þ     Portugal: Economia do Turismo e Balança de Pagamentos

O indicador das Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos é o que melhor ilustra a diferença entre duas realidades:

·          a Economia “real” do Turismo,

·          a contribuição do Alojamento Turístico Classificado para esta balança.

O valor desta contribuição tem de ser estimado. Com efeito, apenas dispomos do valor dos Proveitos do Alojamento Turístico Classificado, que inclui as receitas de Residentes em Portugal em Alojamento, Alimentação e Bebidas, Eventos, Aluguer de salas e similares. A nossa estimativa, baseada na comparação de números e no bom senso, indica que a Contribuição do Alojamento Turístico Classificado representa cerca de 35% do total das Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos – com tanta gente a estudar e investigar Turismo, não encontrámos estimativa mais científica do que esta.

O quadro seguinte ilustra a evolução 2000/2011 dos dois “indicadores possíveis)


Fonte: AHETA, com base em INE e Banco de Portugal

O Quadro seguinte apresenta a evolução percentual de três indicadores:

·          Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos,

·          Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado [ver observação anterior]

·          Dormidas de Residentes no Estrangeiro no Alojamento Classificado.

Podemos observar que, entre 2000 e 2011,

·          as Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos crescem 42.4% e as Dormidas de Residentes no Estrangeiro 8.2% - esta diferença parece indiciar ser cada vez mais importante a contribuição. para as Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos, de Não Residentes, alojados no Alojamento Turístico NÃO Classificado.

           
Fonte: AHETA, com base em INE e Banco de Portugal


Þ     Que Fazer No Período de Após Crise de 2008/2009?

Em 2012, há circunstâncias novas que obrigam o Governo a identificar e fomentar a Economia “real” do Turismo, para além da contribuição dos turistas alojados no Alojamento Turístico Classificado. Esta Economia “real” é condição determinante para

·          aumentar significativamente o valor das Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos,

·          ir mais além em valores não explicitados: Investimento Directo de Não Residentes em Casas do Tempo Livre e Transferências do Exterior para Reformados Imigrantes do Tempo Livre,

·          relançar a Economia Turístico Residencial do Algarve, simplesmente a que mais contribui para as Transferências de Recursos do Exterior.

Apoiar e Fomentar a Economia “real” do Turismo exige que o Governo

·          ultrapasse os Estrangulamentos Culturais, que ainda limitam a actual Politica de Turismo, como limitaram a dos Governos que os antecederam,

·          inove com o dinamizar das Novas Dinâmicas da Economia do Turismo,

·          com urgência, aprove um Programa Para a Competitividade da Economia do Turismo do Algarve.

  

b)Estrangulamentos Culturais



Þ     Uma Criação do Espírito

Os Estrangulamentos Culturais são puras criações do espírito humano, quando
enclausurado numa visão cada vez mais redutora de Turismo,

·          se recusa a ver a realidade da Economia do Turismo, fora dessa clausura e reforça os conceitos que a excluem,

·          conjuga uma politica conservadora (no sentido negativo e transversal da palavra: da esquerda à direita políticas,) com toda a nebulosa dos Serviços Centrais e Regionais de Turismo, interesses empresarias aconchegados na clausura e uma sociedade civil dela pouco independente.

Ao Politico que chega, tudo isto parece ser o fundamental e ter força. Tarde demais percebe que não ousou  ultrapassar meros Tigres de Papel.

  

Þ     Seis Estrangulamentos a Ultrapassar

No Documento de Trabalho de apoio a este post, analisamos, em detalhe seis Estrangulamentos Culturais:

·          Viajar e Turismo: Consequências Politicas

·          Perenidade e Diferença das Modalidades de Viagem

·          Viagem de Estadia, Turismo Residencial e Estadia/Residência de Reformados

·          Viagem Para Estanciar e Concentração da Procura/Oferta

·          Viagem de Estadia, Concentração da Procura/Oferta e Dinâmica Turística e Residencial 

·          Viagem Para Estanciar e Dispersão da Procura/Oferta

 Do ultrapassar os seis Estrangulamentos Culturais resulta um corolário: a Economia do Turismo deve ser objecto de avaliação pelo Sistema Estatístico Nacional, e de posicionamento profissional junto do sistema politico e administrativo e da opinião pública influente


c)A Politica Que Falta à Economia do Turismo do Algarve



Þ     Ultrapassar os Estrangulamentos Culturais

Nenhum Governo consegue definir e aplicar a Politica que falta à Economia Turístico Residencial do Algarve, sem ultrapassar os Estrangulamentos Culturais, que limitam o âmbito da sua Politica de Turismo ao Conceito Redutor herdado do passado.

Ultrapassar os Estrangulamentos Culturais não exige meios financeiros, apenas decisões ao alcance de políticos que queiram mudar o que tem de ser mudado.

Alguém acredita que, no período posterior à Crise 2008/2009, é possível não alterar a Politica da Economia do Turismo, sobretudo quando esta já deu bastas provas da sua inadequação à realidade?



Þ     Fomentar Novas Dinâmicas da Economia do Turismo do Algarve

Ultrapassados os Estrangulamentos Culturais, o Governo fomenta as Novas Dinâmicas da Economia do Turismo:

·          Integração da Cadeia de Valor do Turismo Residencial,

·          Portugal, País Competitivo na Atracção de Reformados Não Residentes,

·          Diversidade e Nova Dimensão da Diáspora Portuguesa.

Como acontece desde Salazar, as grandes decisões estratégicas na Economia do Turismo só pode ser tomadas na esfera de influência do Primeiro-Ministro, uma vez preparadas no seio do actual Ministério da Economia e Emprego. É esta a via a seguir.



Þ     Programa Para a Competitividade de Turismo do Algarve

O Governo tem ainda de decidir, rapidamente, a elaboração de um Programa Para a Competitividade da Economia Turístico Residencial do Algarve. A elaboração exige algum tempo, de modo a ser feita de maneira aberta e virada para a realidade. Não é “mais um estudo” de consultora estratégica, mas sim um Programa de Acções Concretas e muito orientado para a competitividade e ganhos de produtividade.



A Bem da Nação

Albufeira 30 de Março de 2012

Sérgio Palma Brito

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